Mãe, eu estou aqui.
Meu coração expressa vontade de dizer:
- Mãe eu te amo.
Há muito tempo sufoco este sentimento porque não me
ensinaram a viver pelas brincadeiras do crescimento humano, que a fala se tornaria
leve para o coração e doce para a vida. Não fui estimulado a dizer “te amo”,
mas eu sinto vontade, não só de falar, mas de abraçar, beijar, trocar carinho,
porque há sentimentos, desejos no meu coração. Mas o que recebi até agora foram
ausências de palavras que inebriasse a ternura do meu viver. Vim ao mundo pela
circunstância de uma somatória de erros de um homem, que nunca procurou saber
se o que fez era surreal e que merecesse respeito. Acredito que não! Pois ao
violentar os preceitos do amor, feriu sua integridade, machucou o sorriso de
uma jovem que respirava amor, graça e companheirismo, que só queria ser mãe
dentro da concepção de um lar. Aos cantos do mundo eu me encontro e o ar que
respiro, não traz a essência de amor e sim, de revolta e solidão. Nove meses
fui carregado dentro de uma barriga, sem qualquer manifestação de carinho
e precisando desviar-me, das correntes de lágrimas, para não afogar
o que restou de mim. Um homem de corpo atlético e sorriso perfeito, um
violentador dos princípios da honestidade, que sai por aí sacrificando almas
ingênuas e graciosas. Uma noite aqui, outra ali, sem remorso e emoção, caminha
rumo ao presídio, se um dia alguém tiver coragem de denunciar que eu sou fruto
de um estupro e vivo em situação de vulnerabilidade de afeto, atenção e
carinho. Fui punido pelo destino e culpado pela casualidade. Hoje é dias das mães,
como gostaria de abraçá-la. O trauma encolheu aquela que me gerou. Vejo tantas
mulheres sorrindo e abraçando seus filhos, pouco me resta no cantinho da sala de
aula, quando a minha avó se apresenta no meio dos meus rabiscos, trazendo
uma caixa de Bombom de chocolate, entrega-me e diz:
- Dê para sua mãe, apesar de tudo você está aqui.
Texto de reflexão: Combate à Exploração Sexual
Terezinha Guimarães